Agronegócio

Magazine Luiza (MGLU3) é o último ‘titã’ do e-commerce?

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“O que o Magazine Luiza (MGLU3) está fazendo é um milagre.” A frase de Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, consultoria especializada em varejo, resume um pouco do sentimento do mercado em relação à companhia da família Trajano.

A escalada expressiva da taxa básica de juros no Brasil, de 2% para 13,75% ao ano entre março de 2021 e setembro de 2022, encareceu o crédito, diminuiu o consumo no Brasil e enforcou o varejo. Paralelamente, a competição dentro do segmento de e-commerce, que já tem margens de lucro muito apertadas, se acirrou com a chegada de empresas estrangeiras, como Mercado Livre, Amazon e Shopee. A alta dos juros nos EUA foi a cereja dessa conjuntura, já que minimizou, como um todo, a atratividade do mercado brasileiro e aumentou a aversão a risco entre investidores.

Não demorou para os investidores enxergarem quem, entre os três “reis do e-commerce” na Bolsa (Magazine Luiza, Americanas e Via), estava nu. Os papéis da Americanas (AMER3) colapsaram em 11 de janeiro de 2023, após a companhia divulgar uma fraude de mais de R$ 40 bilhões no balanço, e a companhia precisou entrar em recuperação judicial.

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Já no último domingo (28), a Casas Bahia (BHIA3), antiga Via, anunciou que estava entrando com pedido para recuperação extrajudicial – quando ocorre um acordo direto entre uma empresa e seus credores. No caso, a antiga Via Varejo negocia um débito de R$ 4,1 bilhões com os credores Banco do Brasil (BBAS3) e Bradesco (BBDC4).

Veja o que fazer com as ações BHIA3 nesta reportagem

Vale lembrar que, em 2020, durante o estágio mais agudo da pandemia de covid-19, Magazine Luiza, Casas Bahia (Via) e Americanas se beneficiaram da corrida ao e-commerce e figuravam entre as queridinhas da Bolsa, os “titãs” do e-commerce brasileiro. Hoje, pouco mais de três anos depois, apenas o Magalu não precisou reestruturar suas dívidas, seja judicialmente ou extrajudicialmente.

“É um segmento muito suscetível às variações macroeconômicas, crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), taxa de juros, endividamento da população, inflação e etc”, afirma Tozzi. Entretanto, Magalu vem se equilibrando principalmente em função de uma gestão rígida.

“Eles são muito disciplinados na busca por diversificação, em relação às despesas e custos e rentabilidade dos canais”, diz a CEO da AGR. “Então, sim, estão sendo apontados como os sobreviventes.”

Ainda não é o suficiente

O último resultado apresentado pelo Magazine Luiza, no 4º trimestre de 2023, foi considerado um divisor de águas. A empresa reverteu um prejuízo de R$ 35,9 milhões, obtido no mesmo período de 2022, para um lucro líquido de R$ 212,2 milhões, entre outubro e dezembro do ano passado. As vendas totais se mantiveram quase estáveis, em R$ 17,9 milhões, houve o encerramento de 53 lojas no período e as despesas operacionais caíram 23%.

Para Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp, este é o primeiro trimestre em que foi possível notar os impactos das mudanças que o Magazine Luiza implementou nos últimos anos para aumentar as margens e voltar a ter lucro de forma consistente nos resultados. Algumas dessas iniciativas foram a expansão do marketplace e dos serviços de valor agregado, além dos investimentos em tecnologia para suportar a evolução da plataforma.

“Foram dois anos muito difíceis para o Magalu, que foi bastante penalizado pelo aumento da taxa de juros, pelo crescimento das despesas financeiras e pela volta do DIFAL (diferença entre as alíquotas interna e interestadual) em 2023”, afirma Sanchez. Ainda assim, a recomendação para MGLU3 segue neutra. A analista ainda vê os papéis caros, negociando a múltiplos equivalentes a 65 vezes o lucro.

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Pedro Marinho Coutinho, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, também reconhece a melhora nas margens de lucro e tendência a maior rentabilidade. Entretanto, no próximo resultado, ele ainda projeta um impacto das taxas de juros altas e um baixo desempenho das lojas físicas e do LuizaCred, financeira do Magalu.

“Ainda existem obstáculos operacionais para o crescimento sustentável da empresa, apesar das vantagens do seu modelo multicanal e de uma maior racionalidade sobre o take rate (valor que incide em cada transação no marketplace). Vale muito observar a evolução do fluxo de caixa”, diz Coutinho.

Já Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, vê um cenário que tende a continuar difícil. Ele ressalta que o impacto sobre varejistas como Magazine Luiza e Casas Bahia só não foi maior no ano passado, em função da crise da Americanas, que fez com que fluxo de vendas fosse redirecionado aos outros dois players.

“Senão fosse isso, elas estariam ainda mais afetadas e a sensação é que as estrangeiras vieram para ficar”, ressalta Cruz.

Leia também: Casas Bahia (BHIA3): crise esvazia o que sobrou de recomendações no varejo

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