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Startup ajuda as pessoas a pagarem contas em atraso

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Phaedra Ellis-Lamkins ajuda municípios e concessionárias de serviços públicos a cobrar contas em atraso

 

April Bingham, diretora do Departamento de Serviços Públicos de Richmond, Virgínia, estava preocupada. Durante a pandemia, enquanto os consumidores enfrentavam dificuldades para pagar suas contas de serviços públicos, o número de contas não pagas na cidade disparou para US$ 41 milhões (R$ 225,5 milhões) em novembro de 2022. O valor era quase o triplo em relação aos aproximadamente US$ 15 milhões (R$ 82,5 milhões) em fevereiro de 2020.

O aumento acentuado levantou dúvidas sobre como a cidade iria consertar sua infraestrutura envelhecida, incluindo a manutenção de uma adutora centenária. Cobrar essas contas em atraso era vital. Afinal, elas representavam 13% da receita anual da concessionária de serviços públicos de propriedade da cidade.

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Em fevereiro de 2023, Richmond recorreu à Promise, uma startup de software com sede em Fairfield, Califórnia, que gerencia planos de pagamento para governos estaduais e locais. A empresa  de rápido crescimento já havia ajudado a cidade a distribuir ajuda federal. O resultado: embora as contas com mais de 90 dias de atraso continuem crescendo, 11 mil pessoas se inscreveram em um plano de pagamento.

Com isso, 93% estão realizando os pagamentos em dia. Tudo graças ao aplicativo amigável da Promise: planos sem juros e a possibilidade de pagar com cartão de crédito.

“Quando tínhamos planos de pagamento internos, [os clientes] faziam um pagamento para evitar o corte de serviço e depois quebravam o plano de pagamento e reiniciavam o ciclo,” diz April. “A Promise permitiu que as pessoas se sentissem humanas novamente, que tomassem o controle de suas finanças e se sentissem seguras em tomar decisões sobre o que podem ou não pagar.”

Como funciona

Para a cofundadora e CEO da Promise, Phaedra Ellis-Lamkins, tratar com respeito as pessoas que estão enfrentando dificuldades financeiras é o que realmente importa.

Ela é uma mulher negra de 48 anos que cresceu vivendo de assistência social e trabalhou como organizadora sindical em seus 20 anos. Phaedra também ocupou cargos de diretora em organizações sem fins lucrativos e foi conselheira empresarial da estrela pop Prince antes de focar em ajudar as pessoas a pagar suas contas.

Mas se engana quem pensa que a Promise é uma instituição de caridade ou uma organização sem fins lucrativos. Em vez disso, Phaedra quer provar que uma empresa de rápido crescimento, apoiada por investidores, pode ser bem-sucedida sem ser exploradora. “Estamos todos tentando usar o capitalismo para fazer coisas em que acreditamos,” diz.

O foco da Promise em governos estaduais e municipais e em concessionárias de serviços públicos a diferencia do grupo maior de fintechs que ajudam os consumidores a pagar suas contas. Isso porque a startup fornece painéis com atualizações em tempo real sobre pagamentos e programas de alívio.

A maioria das outras empresas simplesmente oferece aos clientes pressionados por dívidas empréstimos com taxas de juros altas – o que é a última coisa que eles precisam. A Promise, ao contrário, ganha dinheiro do outro lado da equação. Ou seja, são os governos e as concessionárias que pagam, não os clientes.

Os municípios geralmente pagam um mínimo de US$ 1 milhão (R$ 5,5 milhões) por ano; os estados, até US$ 10 milhões (R$ 55 milhões). Mas, claro, também é um bom negócio para eles. Após a adesão à Promise, as recuperações de contas inadimplentes podem disparar para 85% ou mais.

“Para os municípios, isso era dinheiro encontrado, dinheiro que eles nunca pensaram que conseguiriam,” diz o investidor Mitch Kapor. “Isso criou um enorme impulso, não apenas de cidades, mas de estados inteiros aderindo.”

“Quando começamos, o conselho de todos era para nos tornarmos uma empresa de empréstimos. A realidade é que a economia não funciona para empréstimos de curto prazo e alto risco,” diz a CEO da Promise. “Estamos comprometidos com o zero juros. Você tem de tomar uma decisão. As pessoas não estão pagando porque não querem ou porque não podem? Se você acredita fundamentalmente que as pessoas não estão pagando porque não podem, você não pode cobrar 30% de juros. Taxas de juros de 30% são punitivas. Quem quer cobrar juros de alguém que está em sofrimento ou com dificuldades?”

Consertar sistemas financeiros governamentais não é um espaço atraente, mas afeta praticamente todos. Também é um foco crescente para investidores que viram sucessos como a OpenGov, empresa de software de orçamento e contabilidade (recentemente avaliada em US$ 1,8 bilhão), e a Paymentus, empresa de pagamentos de capital aberto (valor de mercado de US$ 2,4 bilhões).

Mas construir tecnologia para governos locais lentos e burocráticos também é um desafio. “Pode ser difícil projetar esses serviços de maneira adequada e de forma que sejam intuitivos e fáceis de usar,” diz Beth Noveck, professora da Northeastern University e diretora do The Governance Lab.

Para a cofundadora e CEO da Promise, esse é o ponto. “Quero que seja bonito e fácil,” diz Phaedra. “Nossos clientes se importam porque é eficiente… No final das contas, o governo quer saber que vai conseguir cobrar o dinheiro.”

Trajetória rápida

No ano passado, a receita da Promise atingiu aproximadamente US$ 20 milhões (R$ 110 milhões), mais que o triplo do que arrecadou em 2022. A empresa espera que a receita mais que dobre este ano e novamente no próximo, chegando a aproximadamente US$ 100 milhões (R$ 550 milhões) em 2025 e US$ 300 milhões (R$ 1,650 bilhão) em 2027.

Isso graças a dezenas de contratos com concessionárias e municípios em estados norte-americanos como Virgínia, Mississippi, Havaí e Washington. A startup também é lucrativa — por qualquer medida. Com US$ 51 milhões (R$ 280,5 milhões) arrecadados de investidores que incluem Kapor Capital, First Round, XYZ Capital e 8VC, a Promise atingiu uma avaliação de US$ 520 milhões (R$ 2,860 bilhões) em sua rodada de financiamento mais recente, em 2021.

Esses números ajudaram a Promise a fazer parte da lista deste ano das Próximas Startups de Bilhão de Dólares. Trata-se de uma vitrine anual da Forbes das 25 empresas que acreditamos ser mais propensas a atingir uma avaliação de US$ 1 bilhão.

Ellis-Lamkins cresceu em Suisun City, Califórnia, uma pequena cidade do outro lado dos trilhos da sede atual da empresa em Fairfield. Era conhecida principalmente por sua refinaria de petróleo e seu litoral poluído. O San Francisco Chronicle a considerou o pior lugar para se viver na Área da Baía em 1988.

Ellis-Lamkins foi criada por uma mãe solteira que trabalhava como garçonete. A família recebia cupons de alimentos e outros auxílios governamentais. Quando tinha 12 anos, sua mãe conseguiu um emprego sindicalizado trabalhando para o Condado de Solano, e Phaedra pôde sair da fila do almoço gratuito na escola.

Como uma das poucas alunas pobres no programa de superdotados da escola, ela também teve um vislumbre de como era o mundo diferente e mais rico. Sua mãe é branca, seu pai é negro, e ela lembra de ver diferenças gritantes em como sua mãe e sua avó paterna, com quem era próxima, eram tratadas. “Eram todas essas pequenas coisas que apenas desumanizam você,” diz. “Meu trabalho é garantir que outras crianças não se sintam tão mal.”

Mesmo antes de se formar na Cal State Northridge, ela trabalhava como organizadora para a SEIU Local 715, que representa trabalhadores de serviços, batendo à porta de cuidadores domiciliares, instigando-os a votar em um contrato sindical. Quando tinha 27 anos, era diretora executiva do Conselho Trabalhista AFL-CIO do South Bay, representando mais de 100 sindicatos e 100 mil trabalhadores.

Sua primeira reviravolta na carreira veio em 2009, quando assumiu o lugar do ativista e comentarista de TV Van Jones como CEO da Green for All. Tratava-se de uma organização sem fins lucrativos com sede em Oakland, Califórnia, que trabalha para trazer empregos de energia limpa para comunidades de baixa renda. Van Jones mais tarde a apresentou a Prince, e enquanto estavam nos bastidores de um show do superstar, os dois se deram bem, e Prince a contratou como sua conselheira de negócios.

Em 2014, ela o ajudou a vencer uma batalha épica para garantir a propriedade de suas gravações originais. “Phaedra forçou os poderes constituídos a cederem,” escreveu Jones em um elogio a Prince após sua morte em 2016.

Quando ela estava se aproximando dos 40 anos, conseguiu seu primeiro emprego em tecnologia. O ano era 2015. Phaedra se juntou à Honor, que usa tecnologia para combinar cuidadores — em sua maioria, mulheres negras e latinas — com adultos mais velhos que precisam de ajuda. Embora tenha sido contratada para recrutar trabalhadores de cuidados domiciliares, ela logo começou a supervisionar a receita e a captação de recursos da startup com sede em São Francisco.

Em 2017, ela e sua amiga de longa data Diana Frappier, uma advogada de 52 anos, fundaram a Promise. Inicialmente, elas se concentraram na reforma da fiança. A ideia delas era usar tecnologia para tornar o processo de fiança mais eficiente — uma ideia que se solidificou apósPhaedra receber uma ligação de um amigo dizendo que caçadores de recompensas estavam atrás dele porque ele não tinha conseguido pagar uma multa de US$ 100 (R$ 550).

A Promise, então, começou a trabalhar com condados como o de Alameda, na Califórnia, para oferecer alternativas para fiança. Entre elas, monitoramento eletrônico, com o objetivo de ajudar os réus a se manterem em liberdade e comparecerem ao tribunal. Durante a pandemia, elas mudaram seu foco para gerenciamento de dívida.

Quando a Promise começou a distribuir ajuda federal de US$ 47 milhões (R$ 258,5 milhões) para Richmond, o ex-prefeito Levar Stoney queria garantir que o processo fosse justo. “Richmond, como outras cidades da Virgínia, tem um legado de racismo sistêmico,” diz ele. “A Promise era uma das empresas que já estava atendendo a nossa população, particularmente a população negra. Queríamos nos associar com uma empresa que já estava trabalhando para garantir a equidade.”

Rumo à US$ 1 bilhão

A CEO da Promise tem um discurso eloquente sobre equidade e a necessidade de fazer com que as pessoas paguem suas contas. Mas, a caminho de atingir US$ 1 bilhão, é sua capacidade de usar o governo e as concessionárias para reverter os números de inadimplência que levará a Promise até lá.

“A chave para o sucesso é convencer as pessoas a fazerem o certo,” diz Jones, que agora é comentarista da CNN. “Ela quer que o governo funcione. Ela é uma das poucas pessoas de nossa geração que é capaz de mexer com o governo e obter resultados no nível técnico.”

Agora, as metas para a Promise estão crescendo. As fundadoras querem expandir para mercados como cobrança de impostos sobre a propriedade. Trata-se de uma área que continua a engolir o dinheiro das pessoas — e, como diz a CEO, é crucial que a Promise permaneça firme em sua postura sobre a cobrança de dívidas.

“Estamos comprometidos em garantir que as pessoas paguem suas contas, porque acreditamos que isso é certo,” diz. “Mas também queremos garantir que as pessoas possam manter sua dignidade e que estejam em uma situação financeira melhor do que antes de entrarem em nosso sistema.”

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