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Juro de crise: disparada de taxas do Tesouro IPCA+ para 6% surpreende o mercado

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Desde o início da semana, a alta das taxas do Tesouro IPCA+ no Tesouro Direto vem gerando preocupação no mercado. Esses títulos públicos são indexados à inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e também possuem uma rentabilidade prefixada. Ou seja, além de pagarem a variação da inflação no período entre a compra e a venda do título, também contam com um juro “real”, ou seja, acima do IPCA.

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Na última terça-feira (16), todos os títulos IPCA+ estavam oferecendo retornos reais de mais de 6% ao ano pela primeira vez em 2024. Na manhã desta quarta-feira (17), as taxas avançaram ainda mais na abertura da sessão e as negociações do IPCA+ e títulos prefixados chegaram a ser suspensas no Tesouro Direto. As compras e vendas foram normalizadas às 11h56, com os títulos oferecendo rendimentos menores do que na abertura – mas ainda acima de 6% de juro real ao ano.

Oportunidade rara no Tesouro Direto

A marca de 6% de juro real ao ano não pode ser considerada “trivial”. Esse nível de rentabilidade real é complexo de ser atingido até mesmo na renda variável e quando um títulos público oferece tal desempenho geralmente é sinal de algum “estresse econômico”. Isto porque quanto maior a desconfiança dos investidores em relação à capacidade do governo pagar suas obrigações financeiras no futuro, mais prêmio eles exigem para financiar a dívida pública. Tal a dinâmica impulsiona os rendimentos dos títulos para cima.

Um levantamento feito pela Quantum Finance, a pedido do E-Investidor, mostrou que os títulos IPCA+ com vencimentos mais longos, como os de 2055, atingiram esse pico de rentabilidade (6% ou mais de juro real) em menos de 14% das sessões em que foi negociado. Já os mais curtos, como para 2029, alcançaram esse retorno em menos 13% das sessões.



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Em média, nos últimos dez anos, os títulos IPCA+ passaram a oferecer retornos reais iguais ou superiores a 6% em apenas 24,3% das sessões – uma oportunidade rara, portanto.

Luis Stuhlberger, da Verde Asset, por exemplo, citou no final de março os “juros insanos” que estavam sendo pagos pelos títulos públicos de inflação. Especialmente por aqueles com vencimentos mais longos (para 2045 ou 2055). Na época, o retorno desses papéis estava pouco abaixo de 6% de retorno real ao ano. Hoje, já ultrapassaram essa medida.

“Qualquer conta de matemática elementar diz o seguinte: se o Brasil tiver até 2060 um juro desse tamanho, o País quebrou no caminho. Não dá para chegar num juro desse, é uma oportunidade imensa”, disse Stuhlberger, em evento da Hedge Investments.

Essa também é a visão de Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, e de Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Research . “Os títulos IPCA + com taxas reais de 6% são uma ótima oportunidade de alocação para os investidores”, aponta Caetano. “Realmente são taxas muito altas”, ressalta Fontes.

Juro de crise

Para os especialistas consultados pelo E-Investidor, a explicação para essa precificação de juro real envolve uma mistura de riscos externos e internos. Lá fora, os EUA mantém desde julho do ano passado uma taxa de juros entre 5,25% e 5,5% ao ano, a maior em mais de duas décadas, e ainda sem previsão de cortes devido aos dados econômicos desfavoráveis.

A inflação americana continua acelerando além das estimativas, enquanto a atividade econômica segue sem sinais fortes de esfriamento, o que limita a atuação do Federal Reserve (Fed, banco central americano) no sentido de cortar juros. Com isso, os títulos do Tesouro Americano estão com rendimentos maiores, na esteira da perspectiva de juros mais altos no País – e essa conjuntura pesa também sobre as expectativas sobre os juros no mercado brasileiro.

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“Nem o nosso último resultado do IPCA em março, que veio abaixo das expectativas, ajudou a segurar a abertura da curva (aumento das expectativas para os juros futuros do Brasil)”, diz Albertoni.

Por outro lado, o cenário fiscal do Brasil contribui para a percepção de um risco maior por parte dos investidores e aumento das expectativas para os juros no futuro. No início da semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), confirmou uma mudança na meta estabelecida no arcabouço fiscal para o ano que vem. Agora, em vez de superávit (quando as receitas do governo são superiores às despesas) de 0,5%, o objetivo vai ser de déficit zero.

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“O segundo fator que explica a alta dos rendimentos do Tesouro IPCA+ fica com a nossa questão fiscal, a nossa incapacidade de lidar com o problema fiscal e realizar os cortes de gastos que seriam necessários para a gente ter um equilíbrio e um superávit”, diz Marília Fontes, da Nord.

Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, e Simone Albertoni, especialista em renda fixa na Ágora Investimentos, também tem esse entendimento. “As questões fiscais no Brasil ainda apresentam efeitos negativos na precificação dos títulos, fazendo com que as taxas, principalmente as de longo prazo, permaneçam em níveis elevados”, afirma Caetano. “Olhando o histórico de taxas de juros reais no Brasil, retorno real de 6% é considerado pico de alta, um momento oportuno para investir”, reforça Albertoni.

Tesouro IPCA+ tem riscos

Se o investidor levar o título de inflação até o vencimento, não terá prejuízos com os títulos de inflação e será remunerado conforme os porcentuais acordados no momento da compra. Entretanto, caso venda antes do vencimento, o investidor pode ter perdas com esses papéis.

Os títulos IPCA+, assim como os prefixados, sofrem efeitos de “marcação a mercado”. Isto significa que o preço desses títulos varia diariamente, conforme regras de oferta e demanda no mercado secundário. Em termos gerais, quando a expectativa para a taxa Selic é de alta e  para o País, de juros maiores no futuro, os títulos IPCA+ já adquiridos desvalorizam. Quando a expectativa aponta para corte nos juros, esses papéis tendem a ser melhor precificados.

Pense que em 2022 você comprou um Tesouro IPCA+ com vencimento para 2030 e juros reais de 4% ao ano. Se levar até o vencimento, em 2030, terá o rendimento acordado: variação da inflação no período + 4% ao ano. Contudo, se decidir vender hoje, provavelmente teria perdas, já que os títulos atualmente estão sendo negociados com taxas superiores a 6% de juro real ao ano. Para que seu título com rentabilidade inferior à atual consiga ser negociado no mercado secundário, os interessados aplicam um deságio – confira mais detalhes aqui.

Leia mais: Qual investimento da renda fixa rende 12% ao ano com Selic a 10,75%?

O contrário também acontece, quando o investidor quer vender um título de inflação que paga juros reais superiores aos oferecidos no momento – nesta situação, possivelmente, o papel seria vendido com valorização.

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Por isso, apesar de o juro real de 6% ao ano ser considerado uma grande oportunidade, os investidores devem lembrar que caso as taxas continuem subindo e seja necessário fazer a venda antes do vencimento, é possível que os papéis se desvalorizem. Para minimizar os riscos, a Ágora Investimentos recomenda a compra do Tesouro IPCA+ 2029, que possui o vencimento mais curto disponível.

“Reiteramos que a nossa sugestão é manter o título até o vencimento, sendo que se não for essa a estratégia de investimento, a alocação somente em Tesouro Selic deve ser analisada”, diz a Ágora, em relatório.

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Agronegócio

Anec reduz estimativas de exportação de soja, milho e farelo em agosto

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A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) reduziu nesta terça-feira (27) suas previsões para as exportações de soja, farelo de soja e milho do Brasil em agosto.

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Segundo relatório baseado nos embarques e na programação de navios, a exportação de soja brasileira deve alcançar 7,74 milhões de toneladas em agosto, ante 8,16 milhões na previsão da semana anterior.

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Se confirmado, o embarque representará um aumento de cerca de 172 mil toneladas na comparação com os volumes embarcados no mesmo mês do ano passado.

A exportação de farelo de soja do Brasil foi estimada em 2 milhões de toneladas neste mês, contra 2,39 milhões na estimativa da semana anterior e 1,97 milhão em agosto de 2023, segundo dados da Anec.

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Já a exportação de milho foi prevista em 6,61 milhões de toneladas, versus 7 milhões de toneladas previstas na semana anterior.

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O embarque de milho do Brasil em agosto ainda cairia na comparação com igual mês de 2023, quando o país exportou 9,25 milhões de toneladas.

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Agronegócio

Dólar hoje vai a R$ 5,53 com mercado ainda reagindo ao exterior e IPCA-15

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O dólar hoje abriu em alta de 0,49%, cotado a R$ 5,5365. Ontem, no fechamento, a moeda americana foi comercializada a R$ 5,5021, uma alta de 0,08%.

Hoje, o mercado continua reagindo aos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na terça-feira (27).

Os dados apontam que o indicador desacelerou para 0,19% em agosto, alinhando-se com as projeções dos economistas. Em um período de 12 meses, a inflação atingiu 4,35%, levemente abaixo do limite superior da meta do Banco Central, que é de 4,5%. O IPCA-15 serve como uma “prévia” da inflação oficial medida pelo IPCA, devido a um período de coleta diferente: em vez de calcular a variação dos preços do primeiro ao último dia do mês, considera o intervalo entre a segunda quinzena do mês anterior e a primeira quinzena do mês atual.

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Nesse caso, o período foi de 16 de julho a 14 de agosto. A desaceleração ocorre em um momento de crescente expectativa sobre os próximos passos da política monetária do Banco Central (BC). Membros do BC têm discutido a possibilidade de aumentar a taxa Selic na próxima reunião, em setembro, para trazer a inflação de volta ao centro da meta.

Atualmente em 10,50% ao ano, a taxa de juros é o principal mecanismo do BC para controlar a inflação. O objetivo de inflação da instituição é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e principal candidato a assumir a presidência do Banco Central em 2025, reiterou em um evento na segunda-feira que o BC está adotando uma postura cautelosa e “dependente de dados” para futuras decisões de política monetária, considerando “todas as opções em aberto” para a reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom).

Nas últimas semanas, o mercado tem acompanhado de perto as declarações de Galípolo e do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, buscando pistas sobre o rumo da política de juros. Na última terça-feira, um aparente desencontro entre os dois resultou em uma valorização do dólar.

Cenário externo

Externamente, o dólar ainda reflete uma maior cautela por parte dos investidores diante da intensificação das tensões no Oriente Médio e das expectativas em torno da magnitude do corte de juros nos Estados Unidos.

Durante o simpósio de Jackson Hole, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), declarou que “é o momento” de reduzir os juros, confirmando a expectativa de que o ciclo de flexibilização monetária deve começar na próxima reunião do Fed, em setembro.

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Agora, os investidores aguardam a divulgação de novos dados econômicos para ajustar suas expectativas sobre o tamanho da redução. Na ferramenta CME FedWatch, 71,5% dos participantes do mercado veem uma probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual, enquanto 28,5% apostam em um corte maior, de 0,50 ponto.

A principal divulgação da semana ocorrerá na sexta-feira com o relatório do índice de preços PCE de julho, o indicador de inflação preferido do Fed. Na quinta-feira, dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB) podem fornecer mais informações sobre o estado da economia americana.

Até agora, o dólar subiu 0,41% na semana, teve recuo de 2,69% no mês e alta de 13,39% no ano.

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Agronegócio

Pré-mercado: à espera dos resultados da NVidia

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Bom dia! Estamos na quarta-feira, 28 de agosto.

Cenários

A notícia mais importante desta quarta-feira (28) vai demorar para acontecer. Apenas à noite, após o fechamento do mercado, será divulgado o resultado da empresa americana NVidia referente ao segundo trimestre de 2024.

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Vista como um barômetro para investimentos das empresas de tecnologia em Inteligência Artificial (IA), a Nvidia deve projetar um crescimento de receita de cerca de 10% no segundo trimestre para US$ 28,6 bilhões, ante os US$ 26,0 bilhões do primeiro trimestre. Qualquer decepção certamente agitará os mercados, dado o peso da empresa nos índices dos EUA.

No primeiro trimestre, para a empresa encerrado em 28 de abril, a NVidia anunciou um lucro por ação de US$ 5,98, alta de 18% ante o trimestre anterior e de 262% ante o mesmo período do ano passado.

Como principal beneficiária do boom da inteligência artificial, a Nvidia viu seu valor de mercado aumentar nove vezes desde o final de 2022. No entanto, após atingir um recorde em junho e brevemente se tornar a empresa mais valiosa do mundo, a Nvidia perdeu quase 30% do seu valor nas sete semanas seguintes, o que resultou em uma queda de aproximadamente US$ 800 bilhões em valor de mercado.

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Perspectivas

Os resultados da Nvidia serão divulgados semanas após seus gigantes da tecnologia terem divulgado os resultados. O nome da empresa foi citado durante essas chamadas com analistas, à medida que Microsoft, Alphabet, Meta, Amazon e Tesla gastam pesadamente em unidades de processamento gráfico (GPUs) da Nvidia para treinar modelos de IA e executar pesadas cargas de trabalho.

Nos últimos três trimestres, a receita da Nvidia mais que triplicou em termos anuais, com a grande maioria do crescimento vindo do negócio de data centers. Os analistas esperam um quarto trimestre consecutivo de crescimento de três dígitos. A partir daqui, as comparações ano a ano se tornam muito mais difíceis, e o crescimento deve desacelerar em cada um dos próximos seis trimestres.

Indicadores

Brasil

Caged (Jul)

Esperado: ND
Anterio: 201,71 mil vagas

Estados Unidos

Estoques de petróleo bruto

Esperado: ND
Anterior: 2,7 milhões de barris

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