Connect with us

Agronegócio

Cacau por R$ 60 mil a tonelada? Quem paga a conta amarga do chocolate

Avatar

Published

on

Divulgação/ET

Elisangela Trzeciak, 47 anos, cuida de 52 hectares de lavouras em Medicilândia (PA), mas já não tem cacau para vender

As fantásticas fábricas de chocolate no Brasil têm motivos de sobra para rever sua política industrial e adotar novas estratégias comerciais diante da crise, em definitivo, que se anunciou em 2023 e agravou-se no início deste ano. O cacau, negociado na Nyse (Bolsa de Nova Iorque, na sigla em inglês) a patamares de US$ 2,9 mil (R$ 14,8 mil na cotção atual) por tonelada em abril do ano passado, chegou a US$ 11.722 (R$ 61 mil) neste mês. Essas são as maiores cotações dos últimos 50 anos.

Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida

“Mexeu a placa tectônica da indústria”, afirma Alê Costa, o CEO da Cacau Show, rede de varejo que prevê faturar R$ 7,1 bilhões este ano com a venda dos seus chocolates. “O mercado está ‘da mão pra boca’”, diz ele. À frente de uma demanda por 15 mil toneladas de cacau por ano, o executivo admite que irá alterar a composição dos doces para reduzir os custos, embora não se saiba ainda como isso será feito. “Vamos trabalhar um mix diferenciado, com porções menores, para contornar um pouquinho o aumento.”

A princípio, a medida vai na contramão da política da empresa por produtos com maior quantidade de cacau nos seus chocolates, embora seja possível compensar menos cacau na barra, por exemplo, com nozes e castanhas. A Cacau Show investe R$ 25 milhões por ano em pesquisa e lança cerca de 100 tabletes e bombons por ano, em um portfólio com 350 itens, buscando por “mais cacau, menos açúcar e aromatizantes, além de produtos zero lactose e veganos”, como anuncia em suas 4,5 mil lojas — outras 550 serão abertas, com investimento de R$ 500 mil, neste ano. O mínimo de cacau exigido na composição do chocolate, por lei, é 25%.

Divulgação/CS

Alê Costa, CEO da Cacau Show, contraria tendência de mais cacau, menos açúcar, para driblar alta dos custos

Como o cacau é negociado em contratos futuros, os preços mais altos ainda não foram repassados ao varejo, como ocorreu no último grande feriado regado a chocolate, a Páscoa no último final de semana de março. De acordo com Costa, a indústria de chocolates não deve conter o aumento por muito tempo. “O cobertor dos preços antigos está acabando”, diz ele. Segundo o executivo, a estimativa é de um repasse de até 50% às gôndolas se a situação não voltar ao normal, o que pode levar parte dos consumidores, segundo ele, a substituir o produto por outros doces.

Procuradas pela Forbes, Nestlé e Mondelez, as duas maiores indústrias de chocolates do país, não quiseram falar sobre o atual cenário desse mercado. “A Nestlé tem o compromisso de realizar ações mitigadoras para ajustar preços com responsabilidade e apenas quando necessário”, respondeu em nota.

Leia também:

Cacau avança 14% na ICE na semana e se aproxima de 10 mil libras por tonelada
Por que o cacau está custando quase R$ 50 mil a tonelada nesta Páscoa?
Preços do cacau em Londres atingem recorde

Passos para um verão sem safra de cacau

A marca de chocolates Dunke, com sede em Cajamar (SP), cuja média de preço é de R$ 16 a cada 90 gramas do produto final (os chocolates Nestlé, por exemplo, custam em média R$ 8 e os da Lindt, R$ 28), está em fase de preparar os rótulos e a campanha publicitária destinadas à Páscoa de 2025. “Essa Páscoa já teve um preço mais alto, mas o maior repasse será ano que vem”, prevê Ernesto Neugebauer, o CEO da empresa que, aos 66 anos, está há 50 no setor. Neugebauer vem da família responsável pela primeira fábrica de chocolate do Brasil, inaugurada em 1891, em Porto Alegre (RS).

Na compra do cacau, Neugebauer costuma pagar um prêmio de 25% a 35% sobre o valor do produto a 70 produtores de cacau. São cerca de 300 toneladas do fruto por ano, processadas em sua fábrica. Segundo o executivo, a estratégia para absorver a elevação de custo da matéria-prima será, de imediato, cortar o prêmio ao produtor.

Divulgação/DC

Ernesto Neugebauer, 66, racionou prêmio pago aos produtores diante dos elevados preços do cacau

“Com o preço alto, tivemos que baixar o prêmio para 12%”, afirma. Mas, espera o executivo, a qualidade do doce não deve piorar por conta disso. “Porque os produtores têm que entregar o cacau no mesmo padrão, segundo os testes de qualidade. O produtor aceitou porque, em valores absolutos, ele ainda está ganhando mais”, explica.

Cerca de 90% do cacau transformado em chocolate pela Dunke vem do Pará, o segundo maior estado produtor, que responde por 52% da oferta nacional. Na safra em curso houve quebra de 20% na produção paraense por causa da falta de chuva na região da Amazônia. Quem atesta o déficit é a produtora Elisangela Trzeciak, 47 anos, que cultiva 52 hectares em Medicilândia, o município que mais produz o fruto no país, a 90 quilômetros de Altamira (PA).

A produtividade da fazenda é de até 1,2 tonelada por hectare. Na teoria, há um ótimo cenário para o produtor: o preço pago a ele aumentou de R$ 16 o quilo, em março de 2022, para os atuais R$ 55, equivalente a uma alta de 200%. O problema é que os produtores paraenses estão sem amêndoas estocadas. “Por enquanto, não tem o que vender”, afirma Trzeciak. “O El Niño trouxe um período de estiagem muito severo, quente e seco. A gente não tem cacau para vender, não temos produção.”

Cadê o cacau do mundo

“A indústria está esperando para ver se as novas safras serão boas”, observa Jaime Recena, presidente da Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas), que representa 70 fabricantes. “Por enquanto, todo mundo está assustado e tenso, observando com muita atenção essa alta do cacau. A expectativa é que, com as novas safras, isso comece a retrair um pouco.”

Comparável à tendência do mercado de azeite, que está supervalorizado em função da escassez de produto após duas colheitas ruins em função da estiagem nos maiores países produtores da Europa, principalmente a Espanha, a escalada de preços do cacau se explica por três quebras de safra por causa do El Niño em países produtores da África. Além da incidência do vírus swollen shoot nos cacaueiros africanos e a falta de investimentos no solo que caracteriza um dos principais setores econômicos daquele continente. Com lavouras envelhecidas e doentes, a produção por hectare caiu para 400 pés da fruta, ante 800 pés ou até mil pés de cacau por hectare, segundo especialistas. Os maiores produtores do mundo são a Costa do Marfim e Gana e costumam produzir juntos 2,5 milhões de toneladas (60% da oferta mundial).

A quebra de safra esperada pela ICCO (Organização Internacional do Cacau, na sigla em inglês) em 2023/24 é de aproximadamente 11% ou 370 mil toneladas, que podem chegar a 500 mil toneladas no pior cenário. A oferta foi estimada inicialmente em 4,7 milhões de toneladas, ou seja, reduzindo-a a 4,4 milhões de toneladas.

Maior reajuste para chocolate finos

No Brasil, a demanda pela amêndoa segue firme. O país produz cerca de 220 mil toneladas de cacau por ano e ainda precisa importar até 15% do que consome, isto é, volumes que chegam a 30 mil toneladas. Em 2023, para suprir a quebra de safra no mercado doméstico, que foi de 15% (30 mil toneladas em déficit a mais), a indústria brasileira precisou importar um volume extra de cacau. Foram 40 mil toneladas por US$ 110 milhões (R$ 581,9 milhões) na balança comercial, exemplo da pressão atual sobre a oferta mundial do produto.

A demanda, nos últimos anos, cresce no embalo de uma maior procura por produtos mais populares, mas também pelo varejo que oferece chocolates de maior qualidade para um público mais abastado e que passou a diferenciar os vários tipos de cacau, como ocorre para aos mercados de vinhos, cafés especiais e azeites.

Carlos Silva_Mapa

Lucimara Chiari, presidente do Ceplac, diz que Brasil precisa reorganizar o setor

No total, o Brasil produziu 805 mil toneladas do doce em 2023, volume 6% acima de 2022, de acordo com a Abicab. A conta gerada pela explosão de preços da matéria-prima, no entanto, deve recair sobre o consumidor habituado a produtos refinados, de acordo com Lucimara Chiari, presidente do Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), instituição ligada ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

“Hoje, o preço impacta principalmente a questão da fabricação de chocolates finos no Brasil”, diz Lucimara. “Porque o preço está excelente para o produtor.” Com isso, o produtor consegue vender o total de sua produção a um bom preço, não importa se é o cacau fino ou o fundo de lavoura. “Já está faltando amêndoas de cacau fino, o cacau bean to bar (da barra à chocolateria), para quem faz chocolate fino, com mais de 40% de cacau na composição.”

Lucimara está à frente da comissão que lançou em novembro de 2023 o Inova Cacau, programa que reúne setores público e privado com a meta de atingir a autossuficiência de amêndoas até 2030, levando o país a uma produção da ordem de 400 mil toneladas. A comissão tem agenda marcada para o dia 9 de maio, em Brasília, para discutir a recente escalada de preços na base produtiva. “O produtor tem de aproveitar esse momento em que as cotações estão muito boas e não perder o foco no cacau de qualidade. Tem que reinvestir na propriedade e colocar novas tecnologias na lavoura, porque isso é passageiro”, afirma Lucimara.

 

O post Cacau por R$ 60 mil a tonelada? Quem paga a conta amarga do chocolate apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Continue Reading
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Agronegócio

Anec reduz estimativas de exportação de soja, milho e farelo em agosto

Avatar

Published

on

By

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) reduziu nesta terça-feira (27) suas previsões para as exportações de soja, farelo de soja e milho do Brasil em agosto.

Inscreva sua empresa na lista Forbes Agro100 2024

Segundo relatório baseado nos embarques e na programação de navios, a exportação de soja brasileira deve alcançar 7,74 milhões de toneladas em agosto, ante 8,16 milhões na previsão da semana anterior.

Leia também

Se confirmado, o embarque representará um aumento de cerca de 172 mil toneladas na comparação com os volumes embarcados no mesmo mês do ano passado.

A exportação de farelo de soja do Brasil foi estimada em 2 milhões de toneladas neste mês, contra 2,39 milhões na estimativa da semana anterior e 1,97 milhão em agosto de 2023, segundo dados da Anec.

Siga a ForbesAgro no Instagram

Já a exportação de milho foi prevista em 6,61 milhões de toneladas, versus 7 milhões de toneladas previstas na semana anterior.

Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida

O embarque de milho do Brasil em agosto ainda cairia na comparação com igual mês de 2023, quando o país exportou 9,25 milhões de toneladas.

Escolhas do editor

O post Anec reduz estimativas de exportação de soja, milho e farelo em agosto apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Continue Reading

Agronegócio

Dólar hoje vai a R$ 5,53 com mercado ainda reagindo ao exterior e IPCA-15

Avatar

Published

on

By

O dólar hoje abriu em alta de 0,49%, cotado a R$ 5,5365. Ontem, no fechamento, a moeda americana foi comercializada a R$ 5,5021, uma alta de 0,08%.

Hoje, o mercado continua reagindo aos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na terça-feira (27).

Os dados apontam que o indicador desacelerou para 0,19% em agosto, alinhando-se com as projeções dos economistas. Em um período de 12 meses, a inflação atingiu 4,35%, levemente abaixo do limite superior da meta do Banco Central, que é de 4,5%. O IPCA-15 serve como uma “prévia” da inflação oficial medida pelo IPCA, devido a um período de coleta diferente: em vez de calcular a variação dos preços do primeiro ao último dia do mês, considera o intervalo entre a segunda quinzena do mês anterior e a primeira quinzena do mês atual.

Publicidade

Nesse caso, o período foi de 16 de julho a 14 de agosto. A desaceleração ocorre em um momento de crescente expectativa sobre os próximos passos da política monetária do Banco Central (BC). Membros do BC têm discutido a possibilidade de aumentar a taxa Selic na próxima reunião, em setembro, para trazer a inflação de volta ao centro da meta.

Atualmente em 10,50% ao ano, a taxa de juros é o principal mecanismo do BC para controlar a inflação. O objetivo de inflação da instituição é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e principal candidato a assumir a presidência do Banco Central em 2025, reiterou em um evento na segunda-feira que o BC está adotando uma postura cautelosa e “dependente de dados” para futuras decisões de política monetária, considerando “todas as opções em aberto” para a reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom).

Nas últimas semanas, o mercado tem acompanhado de perto as declarações de Galípolo e do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, buscando pistas sobre o rumo da política de juros. Na última terça-feira, um aparente desencontro entre os dois resultou em uma valorização do dólar.

Cenário externo

Externamente, o dólar ainda reflete uma maior cautela por parte dos investidores diante da intensificação das tensões no Oriente Médio e das expectativas em torno da magnitude do corte de juros nos Estados Unidos.

Durante o simpósio de Jackson Hole, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), declarou que “é o momento” de reduzir os juros, confirmando a expectativa de que o ciclo de flexibilização monetária deve começar na próxima reunião do Fed, em setembro.

Publicidade

Agora, os investidores aguardam a divulgação de novos dados econômicos para ajustar suas expectativas sobre o tamanho da redução. Na ferramenta CME FedWatch, 71,5% dos participantes do mercado veem uma probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual, enquanto 28,5% apostam em um corte maior, de 0,50 ponto.

A principal divulgação da semana ocorrerá na sexta-feira com o relatório do índice de preços PCE de julho, o indicador de inflação preferido do Fed. Na quinta-feira, dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB) podem fornecer mais informações sobre o estado da economia americana.

Até agora, o dólar subiu 0,41% na semana, teve recuo de 2,69% no mês e alta de 13,39% no ano.

Continue Reading

Agronegócio

Pré-mercado: à espera dos resultados da NVidia

Avatar

Published

on

By

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

Bom dia! Estamos na quarta-feira, 28 de agosto.

Cenários

A notícia mais importante desta quarta-feira (28) vai demorar para acontecer. Apenas à noite, após o fechamento do mercado, será divulgado o resultado da empresa americana NVidia referente ao segundo trimestre de 2024.

Leia também

Vista como um barômetro para investimentos das empresas de tecnologia em Inteligência Artificial (IA), a Nvidia deve projetar um crescimento de receita de cerca de 10% no segundo trimestre para US$ 28,6 bilhões, ante os US$ 26,0 bilhões do primeiro trimestre. Qualquer decepção certamente agitará os mercados, dado o peso da empresa nos índices dos EUA.

No primeiro trimestre, para a empresa encerrado em 28 de abril, a NVidia anunciou um lucro por ação de US$ 5,98, alta de 18% ante o trimestre anterior e de 262% ante o mesmo período do ano passado.

Como principal beneficiária do boom da inteligência artificial, a Nvidia viu seu valor de mercado aumentar nove vezes desde o final de 2022. No entanto, após atingir um recorde em junho e brevemente se tornar a empresa mais valiosa do mundo, a Nvidia perdeu quase 30% do seu valor nas sete semanas seguintes, o que resultou em uma queda de aproximadamente US$ 800 bilhões em valor de mercado.

Siga o canal da Forbes e de Forbes Money no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida

Perspectivas

Os resultados da Nvidia serão divulgados semanas após seus gigantes da tecnologia terem divulgado os resultados. O nome da empresa foi citado durante essas chamadas com analistas, à medida que Microsoft, Alphabet, Meta, Amazon e Tesla gastam pesadamente em unidades de processamento gráfico (GPUs) da Nvidia para treinar modelos de IA e executar pesadas cargas de trabalho.

Nos últimos três trimestres, a receita da Nvidia mais que triplicou em termos anuais, com a grande maioria do crescimento vindo do negócio de data centers. Os analistas esperam um quarto trimestre consecutivo de crescimento de três dígitos. A partir daqui, as comparações ano a ano se tornam muito mais difíceis, e o crescimento deve desacelerar em cada um dos próximos seis trimestres.

Indicadores

Brasil

Caged (Jul)

Esperado: ND
Anterio: 201,71 mil vagas

Estados Unidos

Estoques de petróleo bruto

Esperado: ND
Anterior: 2,7 milhões de barris

Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram

O post Pré-mercado: à espera dos resultados da NVidia apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Continue Reading

Popular