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O estouro da bolha da IA e a falácia de um futuro sem futuro

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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

Alguns dias atrás, para minha total surpresa, eu experimentei o meu primeiro, e certamente último, momento Warren Buffett. Esta verdadeira epifania, mais do que inesperada, se deu durante uma mesa redonda (em um evento de varejo) do Fórum E-commerce Brasil, realizado em São Paulo, que focou nos impactos humanos do verdadeiro dilúvio de desinformação e marketing fantasioso promovido pela introdução da chamada inteligência artificial generativa (IAG).

Num certo momento desta conversa, baseado em vários prognósticos recentes, divulgados por analistas de mercado americanos, tanto do setor privado como acadêmico, eu ousei profetizar que a bolha de quase 1 trilhão de dólares da área de IA, formada pelos investimentos descomunais de grandes empresas, bem como um infindável universo de startups, estava prestes a estourar – ou “pop”, como dizem os americanos – arrastando consigo as bolsas de valores por todo o mundo. Difícil dizer quantos presentes na plateia naquela tarde puseram qualquer fé num prognóstico mercadológico feito por alguém totalmente removido do dia a dia do mundo financeiro. Todavia, menos de uma semana depois, alguns dos presentes devem ter se lembrado do vaticínio da pitonisa de ocasião quando, ao acordar, se deram conta que as bolsas ao redor do mundo haviam sofrido perdas significativas estimadas em aproximadamente 6.5 trilhões de dólares, mais que 3 vezes o PIB brasileiro em 2023, em apenas um pregão cabuloso – como um amigo meu gosta de dizer – de segunda-feira. Verdade seja dita que um dos principais componentes de tal queda foi a desaceleração da economia americana.

Todavia, os sinos, alarmes, e sinais de fumaça disparados com as múltiplas predições – inclusive de um economista renomado do MIT – que os investimentos mais que exuberantes em AI generativa podem jamais gerar um retorno financeiro significativo, quer para as empresas quer para o PIB dos países, desempenhou um papel de coadjuvante fundamental no “mini-crash” das bolsas mundiais. Enquanto isso se dava, o verdadeiro Warren Buffett anotava no seu caderninho pessoal de contabilidade, certamente escrito à mão, os mais de 270 bilhões de dólares acumulados com a venda de suas ações bem antes do crash, incluindo boa parte dos seus investimentos na gigantesca Apple, que junto com as outras chamadas 7 maravilhas do mundo “Big Tech” perderam em média 11% dos seus valores de mercado. Entre estas 7, inclui-se a NVIDIA que recentemente havia se transformado na empresa com maior valor de mercado do mundo. Mesmo assim, não escapou da carnificina promovida por investidores com polpas digitais trêmulas de ansiedade.

Mas todo este verdadeiro churrasco de ações de empresas de IA pode ser apenas o primeiro salvo de um braseiro ainda muito maior e devastador. Sem que muitos notassem, alguns dias antes do crash das bolsas – precisamente no dia 25/07/2024 – um grupo de matemáticos ingleses e canadenses (Shumailow et. al., 2024) publicou um artigo na prestigiosa revista Nature que, na minha humilde opinião, pode vir a se tornar um clássico na literatura de IA. Não pelas razões que os seus adeptos desejariam. Neste estudo, os autores demonstram que a medida que textos produzidos por modelos conhecidos como LLM (do inglês Large Language Models), que são a base de aplicativos como Chat-GPT-3 e Chat-GPT, passarem a dominar o conteúdo disponível na internet e, inadvertidamente, começarem a ser usados para o treinamento de novas gerações de LLMs, estes últimos modelos tenderiam a sofrer o que os autores chamaram de “colapso”. Este colapso foi definido como “um processo degenerativo que afeta gerações de modelos generativo que ocorre quando os dados que eles produziram, numa geração anterior, passam a fazer parte ou “poluir” o grupo de dados de treinamento usados para que uma nova geração de modelos possa aprender”. Como resultado desta “poluição recursiva”, os novos modelos passariam a se distanciar cada vez mais dos dados que representam textos verdadeiros produzidos por interações humanas reais. Desta forma, estas futuras gerações de modelos gradualmente perderiam a sua capacidade preditiva e se transformariam em ferramentas inúteis. Mais do que isso, no limite, tal colapso elevaria dramaticamente o valor dos dados – textos, imagens, vídeos – derivados de interações humanas genuínas, levando, consequentemente, à uma explosão no custo para se obter as gigantescas coleções de dados (na ordem de muitos milhões de eventos) necessárias para treinar futuros LLMs.

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Não é preciso ter um doutorado em estatística para reconhecer a tremenda sinuca de bico que este artigo criou para todos os envolvidos com o desenvolvimento de aplicações de AI generativa baseadas em LLMs. Trocando em miúdos, o que este estudo revelou é que quanto maior o monopólio atingido por estes modelos – a real intenção desta e qualquer outra industria – , maior a chance deles “colapsarem” num futuro próximo! Pior ainda, este estudo escancarou o verdadeiro tamanho do risco que investidores em todo mundo vão enfrentar ao continuar a torrar seu dinheiro cegamente em mais uma das falácias de uma área que proporcionou tantas outras bolhas na sua já longa história – quase 70 anos – de promessas inexequíveis e revoluções jamais realizadas. Culminando com a mais recente delas, a qual eu usualmente me refiro como construir um futuro sem futuro para a humanidade.

Surpreso? Eu me explico. Caso aplicações de IA generativa, que usam como matéria prima enormes repositórios de dados obtidos no passado – nem sempre com consentimento dos seus geradores, nós os consumidores, diga-se de passagem – para treinar seus LLMs, se tornem difundidas por todas as atividades humanas, no limite, toda humanidade seria condenada a viver num futuro onde nada literalmente novo é criado; porque tudo seria derivado apenas da massagem algorítmica em larga escala de algum domínio do conhecimento humano produzido no passado. Tudo isso sem nenhuma transparência de como o resultado foi obtido, uma vez que o processo central por detrás destas aplicações, batizado com o grandioso nome de “deep learning”, é totalmente imune a qualquer escrutínio ou auditoria que permita revelar como os seus resultados mirabolantes – quase mágicos para alguns adeptos mais fanáticos – foram gerados. Assim, se um LLM for treinado com todos os textos que Machado de Assis escreveu na sua vida, este modelo só será capaz de produzir textos que se assemelham aquilo que o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas produziu mais de um século atrás. Deste angu de dados, porém, jamais sairia um novo Gabriel Garcia Marquez ou Shakespeare. Da mesma forma, um sistema treinado com todas as sinfonias de Mozart jamais seria capaz de produzir uma nova canção dos Beatles, ou qualquer outro tipo de movimento musical inovador. Por não ser nem inteligente – apenas os organismos o são – nem artificial – milhões de seres humanos precisam labutar as escondidas para que ela funcione – a tal IA, cantada em verso em prosa como a mais sofisticada das tecnologias de processamento de dados a emergir durante toda a Era Digital, seria totalmente incapaz de imitar ou replicar a épica e extraordinária façanha de quase 110 bilhões de seres humanos que, ao longo dos últimos 300 mil, anos construíram um futuro verdadeiramente original e criativo. Basicamente, seria o fim desta esplendorosa corrida de revezamento em que homens e mulheres de uma dada geração, individual e coletivamente, graças as suas habilidades cognitivas, construíram pelas próprias mãos, algo que nenhuma máquina digital ou algoritmo será capaz de parir: um futuro genuinamente tão imprevisível, quanto inovador.

Em outras palavras, um futuro onde ainda haverá esperança de se criar um mundo melhor! Se Warren Buffet me permitir mais um momento usando os seus sapatos, é neste futuro que eu colocaria todas as minhas fichas.

Escolhas do editor

Miguel Nicolelis é professor emérito da Duke University, fundador Instituto Nicolelis de Estudos Avançados do Cérebro.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da Forbes Brasil e de seus editores.

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Agronegócio

Anec reduz estimativas de exportação de soja, milho e farelo em agosto

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A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) reduziu nesta terça-feira (27) suas previsões para as exportações de soja, farelo de soja e milho do Brasil em agosto.

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Segundo relatório baseado nos embarques e na programação de navios, a exportação de soja brasileira deve alcançar 7,74 milhões de toneladas em agosto, ante 8,16 milhões na previsão da semana anterior.

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Se confirmado, o embarque representará um aumento de cerca de 172 mil toneladas na comparação com os volumes embarcados no mesmo mês do ano passado.

A exportação de farelo de soja do Brasil foi estimada em 2 milhões de toneladas neste mês, contra 2,39 milhões na estimativa da semana anterior e 1,97 milhão em agosto de 2023, segundo dados da Anec.

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Já a exportação de milho foi prevista em 6,61 milhões de toneladas, versus 7 milhões de toneladas previstas na semana anterior.

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O embarque de milho do Brasil em agosto ainda cairia na comparação com igual mês de 2023, quando o país exportou 9,25 milhões de toneladas.

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Agronegócio

Dólar hoje vai a R$ 5,53 com mercado ainda reagindo ao exterior e IPCA-15

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O dólar hoje abriu em alta de 0,49%, cotado a R$ 5,5365. Ontem, no fechamento, a moeda americana foi comercializada a R$ 5,5021, uma alta de 0,08%.

Hoje, o mercado continua reagindo aos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na terça-feira (27).

Os dados apontam que o indicador desacelerou para 0,19% em agosto, alinhando-se com as projeções dos economistas. Em um período de 12 meses, a inflação atingiu 4,35%, levemente abaixo do limite superior da meta do Banco Central, que é de 4,5%. O IPCA-15 serve como uma “prévia” da inflação oficial medida pelo IPCA, devido a um período de coleta diferente: em vez de calcular a variação dos preços do primeiro ao último dia do mês, considera o intervalo entre a segunda quinzena do mês anterior e a primeira quinzena do mês atual.

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Nesse caso, o período foi de 16 de julho a 14 de agosto. A desaceleração ocorre em um momento de crescente expectativa sobre os próximos passos da política monetária do Banco Central (BC). Membros do BC têm discutido a possibilidade de aumentar a taxa Selic na próxima reunião, em setembro, para trazer a inflação de volta ao centro da meta.

Atualmente em 10,50% ao ano, a taxa de juros é o principal mecanismo do BC para controlar a inflação. O objetivo de inflação da instituição é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e principal candidato a assumir a presidência do Banco Central em 2025, reiterou em um evento na segunda-feira que o BC está adotando uma postura cautelosa e “dependente de dados” para futuras decisões de política monetária, considerando “todas as opções em aberto” para a reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom).

Nas últimas semanas, o mercado tem acompanhado de perto as declarações de Galípolo e do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, buscando pistas sobre o rumo da política de juros. Na última terça-feira, um aparente desencontro entre os dois resultou em uma valorização do dólar.

Cenário externo

Externamente, o dólar ainda reflete uma maior cautela por parte dos investidores diante da intensificação das tensões no Oriente Médio e das expectativas em torno da magnitude do corte de juros nos Estados Unidos.

Durante o simpósio de Jackson Hole, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), declarou que “é o momento” de reduzir os juros, confirmando a expectativa de que o ciclo de flexibilização monetária deve começar na próxima reunião do Fed, em setembro.

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Agora, os investidores aguardam a divulgação de novos dados econômicos para ajustar suas expectativas sobre o tamanho da redução. Na ferramenta CME FedWatch, 71,5% dos participantes do mercado veem uma probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual, enquanto 28,5% apostam em um corte maior, de 0,50 ponto.

A principal divulgação da semana ocorrerá na sexta-feira com o relatório do índice de preços PCE de julho, o indicador de inflação preferido do Fed. Na quinta-feira, dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB) podem fornecer mais informações sobre o estado da economia americana.

Até agora, o dólar subiu 0,41% na semana, teve recuo de 2,69% no mês e alta de 13,39% no ano.

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Pré-mercado: à espera dos resultados da NVidia

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Bom dia! Estamos na quarta-feira, 28 de agosto.

Cenários

A notícia mais importante desta quarta-feira (28) vai demorar para acontecer. Apenas à noite, após o fechamento do mercado, será divulgado o resultado da empresa americana NVidia referente ao segundo trimestre de 2024.

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Vista como um barômetro para investimentos das empresas de tecnologia em Inteligência Artificial (IA), a Nvidia deve projetar um crescimento de receita de cerca de 10% no segundo trimestre para US$ 28,6 bilhões, ante os US$ 26,0 bilhões do primeiro trimestre. Qualquer decepção certamente agitará os mercados, dado o peso da empresa nos índices dos EUA.

No primeiro trimestre, para a empresa encerrado em 28 de abril, a NVidia anunciou um lucro por ação de US$ 5,98, alta de 18% ante o trimestre anterior e de 262% ante o mesmo período do ano passado.

Como principal beneficiária do boom da inteligência artificial, a Nvidia viu seu valor de mercado aumentar nove vezes desde o final de 2022. No entanto, após atingir um recorde em junho e brevemente se tornar a empresa mais valiosa do mundo, a Nvidia perdeu quase 30% do seu valor nas sete semanas seguintes, o que resultou em uma queda de aproximadamente US$ 800 bilhões em valor de mercado.

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Perspectivas

Os resultados da Nvidia serão divulgados semanas após seus gigantes da tecnologia terem divulgado os resultados. O nome da empresa foi citado durante essas chamadas com analistas, à medida que Microsoft, Alphabet, Meta, Amazon e Tesla gastam pesadamente em unidades de processamento gráfico (GPUs) da Nvidia para treinar modelos de IA e executar pesadas cargas de trabalho.

Nos últimos três trimestres, a receita da Nvidia mais que triplicou em termos anuais, com a grande maioria do crescimento vindo do negócio de data centers. Os analistas esperam um quarto trimestre consecutivo de crescimento de três dígitos. A partir daqui, as comparações ano a ano se tornam muito mais difíceis, e o crescimento deve desacelerar em cada um dos próximos seis trimestres.

Indicadores

Brasil

Caged (Jul)

Esperado: ND
Anterio: 201,71 mil vagas

Estados Unidos

Estoques de petróleo bruto

Esperado: ND
Anterior: 2,7 milhões de barris

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